20 de maio de 2011

" HISTÓRIAS DE PEÃO DE OBRAS "

Imagens do Local da Construção do Complexo Industrial da Petrobas


Poço de Petroleo

Catinga
Complexo Industrial

Nos anos 80 eu trabalhava em uma multinacional do ramo da Construção Civil e Montagen Industrial e fomos participar de um projeto para a Petrobrás, da construção de um Complexo Industrial e esse compreendia a parte civil e montagem de todos os equipamentos necessários para a exploração, refino e distribuição do petroléo em terra e no mar (Plataformas). Não cabe divulgar a localidade por questão de não denegrir a imagem do local e de seus moradores e por má utilização da história por parte de pessoas inescrupulosas. O único objetivo e relatar os fatos acontecidos, a curiosidade, o conhecimento, o interesse e a parte folclórica e engraçada. Nessa localidade ficamos por uns 4 anos até a sua finalização e funcionamento. Vários acontecimentos ocorreram nesse periódo que jamais serão esquecidos por todos que lá pisaram e vamos relatar apenas parte de alguns acontecimentos.
A região na época era uma terra seca (catinga) no interior do estado e passava por um periódo de 5 anos sem uma chuva permanente. A estiagem era penosa para todos, para se ter uma ideia a  água potável era buscada a 35 km de distância por 3 caminhões pipa da empresa. Para o consumo nos banheiros e outras utilidades usávamos uma água do sub-solo (salobra) que passava por um processo industrial de dessalinização, e a mesma deixava um cheiro forte pelo corpo e os cabelos ficavam duros. Para atuar no lado social da nossa empresa, abastecíamos diariamente a cisterna do município localizada na praça central, a caixa da prefeitura e a do posto de saúde do qual o médico fazia uma visita por semana e quando podia ou vinha de outra cidade. O município não possuía hospital, médico e até farmácia. Faltava agência bancária, de correios, super mercados, açougue e padaria e qualquer tipo de posto para os serviços público.
Pitoresco no local era a uma solitária cabine telefónica e quando uma ligação chegava, tinha sempre um menino que conhecia todos para chamá-la e atender o tal telefonema. A noite criava uma fila enorme para ligações interurbanas e nem todos conseguiam falar com os parentes distantes, o fluxo de forasteiros aumentou muito nessa epoca.
O clima era constante o ano inteiro, sem chuvas e imposto por um forte vento que soprava do mar para a terra causando um desconforto pela poeira de areia pelo corpo e afetando os olhos  e acrescido ainda de um calor sufocante  (+ ou - 36 °). Chegava dias de não enxergar a mais de 10 passos qualquer pessoa ou objeto.
Um fato marcou nesse período a região era infestada de uma legião do "Bicho Barbeiro" o inseto hospedeiro e transmissor da doença de Chagas, com a construção estávamos alterando o seu habitat natural e eles começaram a invadir as instalações e a picar os trabalhadores, a luta constante era de uma boa detetização completa e permanente. Houve também um período do aparecimento de baratas gigantes originarias da região que se espalhavam por todos os locais, e também um tempo para o surgimento de um tipo de sapo enorme que buscava os locais mais frescos e úmidos para se alojar, principalmente os buracos das fundações e cantos.
Na região também havia um tipo de inseto pequeno na cor vermelho e preto (flamenguista) denominado pelo nome de "Potó" que infestava o local, este animal deixa um liquido na pele da pessoa que causava uma queimadura grave e de difícil cicratezição, perigoso na face e na região dos olhos.
Um dos fato mais engraçado da época, que todo final de expediente o nosso laser era uma pelada de futebol em uma quadra de piso irregular e a meninada nativa ia assistir e, em uma dessas partidas o nosso colega um estágiario de engenharia deixou a sua lente de contato cair, o futebol parou para que todos a procurassem, e quando ela foi encontrada esse amigo lavou a lente e tentava repor a mesma no olho e para a nossa surpresa a garotada que nos rodeava queria saber de toda forma como ele conseguia tirar e colocar o seu olho, pois queriam fazer o mesmo (até então naquela época os meninos da região desconheciam a existência de lentes de contato).
Pessoas e fatos pitorescos eram fartos e me lembro do Chiquinho (baixa estatura e de um  cabeça enorme) era o nosso meio enfermeiro, conta que ele e o motorista da ambulância foram levar um paciente de madrugada para socorro em uma cidade maior e com recursos  e para encontrar o hospital, na entrada da cidade ligaram a sirene do veículo sem parar e rodaram até que a policia por reclamação dos moradores local, detiveram todos inclusive a ambulância ficou aprendida, lógico o paciente foi socorrido mas os demais ficaram detidos até no outro dia, pois tinham que aguardar a chegada do delegado e do responsável pela empresa. Tinha também o Zé do Coco que quebrava um coco verde com a força de sua mão e ainda me recordo do Xavier que a noite capturava tatu peba no interior do cemitério e no dia seguinte vendia os tatu capturados para comermos, depois de muito tempo é que descobrimos o fato. Naquela época as pessoas e na região era comum caçar e comer o tatu, mas hoje não comeria de forma alguma.
Noticias na região via rádio e TV era raridade, o sinal quando chegava vinha do estado vizinho, o jornal para a nossa informação era de 3 dias passados vindos do Rio e São Paulo.
Pobreza, falta de água e comida, perpesctiva da situação melhorar eram quase nulas, mas com a nossa chegada a realidade mudou um pouco, criamos empregos com salário justo, refeições diárias, alojamentos, uniformes e calçados para muitos sertanejos. O principal foco era contratar operários somente do local e treina-los. O uso de maquinaria também era restrito para poder gerar mais empregos não qualificados.
Fato chocante foi assistir recém nascidos morrer e serem enrolados em um manto branco e depois sepultado no fundo do quintal ou em local aleatório na vegetação, sem qualquer tipo de registro ou identificação.
Outro fato marcante era que a 3 km de distância havia uma fazenda de gado de propriedade de um tal coronel (politico inflente na região) e lá possuía um poço artesiano de água boa e armazenada em caixas de fibra tudo construída e financiada pela SUDENE, a água servia apenas para uso da fazenda e do gado. Para a comunidade local ela não podia ser utilizada sem uma autorização do proprietário e o local era sempre cercado, fechado e vigiado.
NOTA: A construção de uma tubulação de mangueira simples do poço até a cidade abasteceria toda a população e resolveria a falta de água para a comunidade, a distância não era grande.
Na localidade inexistia ainda a presença de qualquer órgão público atuante e os seus moradores ficavam nas mãos dos poderosos local e ainda com o agravante da seca, falta de água, terra boa para o plantio e até das sementes para o plantio.
Estamos relatando os acontecimentos agora pela oportunidade deste BLOG e fica a nossa pergunta: Nós realmente conhecemos o país, os nossos trabalhadores, principalmente nos peões de obras (Hidreletricas - Açudes - Linhas de Transmissão - Oleodutos - Gasodutos) espalhados por várias construções nos mais distantes e deserticos locais e enfrentam todos os tipos de obstáculos para trazer o progresso e ajudar a sermos um país digno, soberano e rico. Ficamos agasalhados no conforto da cidade e fechamos os olhos  para os diversos acontecimentos em localidades que mal sabemos onde fica, os políticos e mandantes na maioria corruptos que não saem de seus gabinetes refrigerados, principalmente os de Brasília e de alguns senhores donos de terra e de poder financeiro e politico que pensam que são proprietários de uma determinada cidade ou até de uma região ou até mesmo donos das pessoas.
Hoje o município através da Petrobras se desenvolveu e conta com pequena e melhor infla estrutura, com rodovias pavimentas e o Complexo Industrial funcionando a todo vapor. No ano passado o presidente Lula e o presidente da Petrobrás estiveram visitando o local.
Faço ainda uma observação agravante: A região em seu sub solo é um dos mais ricos do país, lá se encontra grandes quantidades de gás natural, gasolina natural, petróleo, minerais raros (ex. Tugstênio - Schelita), calcário e ainda abundância de água boa em seu  solo e  não explorado, ainda a região é rica na produção de sal marinho, da pesca   (Peixes - Camarões e Lagosta) e um potencial turístico enorme para ser ainda a desflutar.
Quanta riqueza acumulada juntas e tão mal explorada, administrada e distribuída. Porque Será?

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